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Varicela: picas ou pintas?

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Set 24, 2006
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É uma das mais comuns doenças infantis e está no centro de um aceso debate sobre os prós e contras da vacina. Imunizar logo que possível ou deixar a infecção seguir o seu curso? Conheça todos os argumentos.



Luísa não teve qualquer hesitação. A primeira coisa que fez quando saiu da consulta dos 12 meses do filho foi entrar numa farmácia e comprar a vacina da varicela. «Para mim, os argumentos do pediatra fazem sentido. Se podemos evitar que o Tomé tenha a doença, sem mal-estar, crostas, comichão e isolamento, para quê fazê-lo passar por isso? Ainda me lembro de estarmos, eu e os meus dois irmãos, com ‘bexigas’ e do stresse todo que aconteceu em casa dos meus pais. O meu pai até foi contagiado por nós! E não quero passar pelo mesmo!».



Horácio também não hesitou. «Mesmo antes do médico da Raquel me dizer que considerava que a vacina da varicela não é necessária, tínhamos já decidido que não o íamos fazer. Quando se tem esta doença ganham-se anticorpos para a vida toda. A nossa filha apanhou mesmo varicela no infantário e foi uma grande infecção. Parecia um bichinho, ficou cheia de febre e a certa altura até pensámos se o que tínhamos decidido era o melhor. Mas hoje tenho a certeza de que estamos certos. O Frederico tem seis meses e também não vai apanhar esta vacina».



Sofia demorou um ano até tomar a decisão. «Na consulta do ano, o pediatra passou a receita da vacina, mas eu não a aviei. Alguns meninos da creche tinham apanhado varicela e sempre esperei que a Ana fosse contagiada, mais cedo ou mais tarde. Isso nunca aconteceu e um ano depois o médico, ao olhar para o boletim de vacinas, voltou à carga, dizendo que a não vacinação era ‘uma moda’ e se o medicamento foi aprovado e é usado há tanto tempo noutros países é porque ‘é seguro e protege mesmo’. Aí, não resisti mais e a minha filha acabou mesmo por ser vacinada.»



Isabel ainda não encerrou este capítulo. «A médica da Mariana recomenda a vacina. Mas, na altura em que era para dar, não se sabia se seriam uma ou duas doses e logo isso deixou-me insegura. Por outro lado, eu tive varicela em miúda e não foi nada do outro mundo. Até hoje, a pediatra não sabe que não lhe dei a vacina. Mas isto não significa que não acredite nas vantagens da vacinação, até porque a Mariana tem todas as do Plano Nacional e também a da meningite e do rotavírus. Parece-me que a da varicela é um exagero. Mas ainda não tomei uma decisão definitiva».



Quatro casos, quatro formas diferentes de encarar uma das questões de saúde infantil que mais fazem pensar as famílias. Até há poucos anos tida como um mal inevitável, com o surgimento da vacina a varicela integrou o grupo das doenças que podem estar ausentes na infância. Mas nem toda a gente lhe quer dar um adeus definitivo e a questão é tudo menos pacífica. A começar pelos médicos.



Há clínicos que defendem a vacinação logo que possível, de forma a travar o mal-estar, todos os sintomas bem conhecidos e os habituais surtos que levam a ausências escolares e laborais. Mas no reverso da medalha estão aqueles para quem a eficácia da vacina e o prolongamento dos seus efeitos no tempo ainda não estão suficientemente bem estudados. Temem que uma inoculação na infância possa adiar a infecção para a adolescência e idade adulta, com complicações bem mais graves, a nível individual e de saúde pública. E, por fim, existem médicos para quem a melhor e mais permanente protecção são os anticorpos que se ganham quando se apanha varicela de forma natural.



Pintas, bolhas e comichão



A varicela é, provavelmente, a infecção viral mais comum nos primeiros anos e pouca gente terá chegado à idade adulta sem ter apanhado «bexigas» ou, pelo menos, assistido ao habitual leque de sintomas: pontos vermelhos que se transformam em bolhas cheias de líquido e, mais tarde, rebentam e desenvolvem crostas. E tudo isto acompanhado de comichão. Muita comichão.



Antes da vacina, a questão não era se a doença ia aparecer, mas quando. Altamente contagiosa, a varicela grassava em creches, jardins-de-infância e escolas e, uma vez entrada em casa, não eram raras as situações em que todas as crianças da família a desenvolviam ao mesmo tempo. Era o tempo dos medicamentos para combater a febre e o mal-estar, as loções e mezinhas para aliviar o prurido e os avisos repetidos até à exaustão: «não te coces que ficas com marcas!». O resto do tratamento era esperar que a infecção evoluísse até desaparecerem todas as «bexigas».



Falta de universo



Tudo isto começou a mudar quando a vacina da varicela entrou no mercado. Em Portugal, tal aconteceu em Outubro de 2004 e hoje existem disponíveis duas marcas, que não são comparticipadas, já que esta inoculação não faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV). A sub-directora geral da Saúde, Graça Freitas garantiu que os medicamentos são «seguros, eficazes e de qualidade» e adequados para todas as idades.



É por isso que, para além da vacinação durante a infância, alguns médicos assistentes perguntam aos seus pacientes adultos se tiveram varicela enquanto crianças e, em caso negativo, propõem a inoculação ao mesmo tempo que a dos pequenos lá de casa.



O pediatra Paulo Oom elenca outras vantagens: «as eventuais complicações da doença são muito graves e são evitadas pela vacina e esta permite eliminar a doença de grávidas, adolescentes e adultos, onde as manifestações são mais graves».



No entanto, o preço das duas doses necessárias da vacina da varicela pode ir até aos 88 euros, o que a deixa de fora de muitos orçamentos familiares. E é precisamente esse o motivo inicial de quem defende que vacina da varicela, da forma como está a ser aplicada no nosso país – sem universalidade no acesso – não traz resultados globais no combate à doença. «A vacinação só faz sentido se, pelo menos, 85 por cento das crianças for inoculada, o que só se consegue com a inclusão no PNV. Só assim se conseguiria a ‘imunidade de grupo’, ou seja, ficariam também protegidas as poucas crianças não vacinadas», afirma Paulo Oom.



Assim, enquanto a vacina for apenas tomada por uma minoria de crianças, a protecção apenas as abrangerá a elas e existirão sempre surtos de varicela, a afectar crianças, adolescentes e adultos. Esta ‘vacinação casuística’ tem efeitos criança a criança «mas pode aumentar o número total de casos na população em geral», alerta o pediatra.



Na falta de um estudo que permita saber a incidência da doença, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) avança com estimativas referentes ao ano de 2007: 649 casos por 100 mil pessoas na população geral, 6240 por 100 mil crianças entre os 0 e os quatro anos e 3530 por 100 mil crianças entre os cinco e os nove anos.



É por isso que também a SPP, pela voz de Laura Marques (presidente da Sociedade de Infecciologia Pediátrica da SPP), considera que «Portugal deve seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que se traduzem por só considerar a vacinação das crianças contra a varicela através da introdução da vacina no PNV». Mas este é um cenário pouco provável. Graça Freitas garante que a inclusão da vacina da varicela no plano público «não é uma prioridade a curto ou a médio prazo», dado que a doença «é tida como benigna».



Futuro desconhecido



A médica Manuela Tavares concorda em absoluto com esta última afirmação. «De uma forma geral, a varicela é uma doença bastante benigna, em especial quando ocorre na infância. E, quando acontece de forma natural, permite ganhar uma imunidade para o resto da vida, impossível de garantir com qualquer vacina. É este o grande ponto positivo da infecção».



Em contrapartida, «ainda não está suficientemente estudado o impacto que esta inoculação tem a longo prazo no sistema imunitário e mesmo quanto tempo dura a suposta imunidade. Existem apenas perspectivas de 10 a 15 anos de protecção. E o que acontece depois?», questiona a presidente da Associação de Medicina Antroposófica.



Manuela Tavares refere-se a um dos mais fortes argumentos de quem não concorda com a vacina. Ou, pelo menos com a vacinação antes da adolescência. Os jovens e os adultos infectados pelo vírus da varicela «são mais susceptíveis a complicações graves, com um aumento vinte vezes superior na mortalidade entre os 15 e os 44 anos», afirma a SPP.



«E ninguém sabe se uma criança vacinada agora não poderá desenvolver varicela mais tarde, à medida que os efeitos da inoculação vão desaparecendo», defende Manuela Tavares. «Não digo a ninguém para não ser vacinado ou não dar a vacina da varicela às suas crianças. Mas peço sempre para se informarem e avaliarem muito bem toda a situação antes de tomarem qualquer decisão que influa nas capacidades imunológicas, no presente e no futuro».



Festas de «pintinhas»


A moda começou nos Estados Unidos. Logo que uma criança apanha varicela, os pais desdobram-se em telefonemas para os amigos e conhecidos cujos filhos ainda não ficaram cobertos de pintas. O objectivo? Organizar uma «festa da varicela» para tentar transmitir a doença de forma natural ao maior número possível de crianças, que assim ficarão com anticorpos naturais e imunes a futuras infecções. Os convidados são levados a partilhar brinquedos, talheres, copos e comida, para garantir que o vírus circula livremente. Ao jornal New York Post, Angie Smith, mãe de uma menina de três anos, afirmou não ter descansado até Samantha ter apanhado varicela. O que só aconteceu após a quarta «festa». «Logo que lhe apareceram os primeiros sinais, foi a minha vez de convidar meninos lá para casa. A maior parte acabou por apanhar varicela e, tal como aconteceu com a minha filha, de uma forma muito ligeira. Agora estamos muito contentes pois, evitámos pelo menos uma vacina e ela está imune», disse. Em Portugal, mesmo sem organizar festividades, há quem promova especificamente o contacto entre doentes e não-doentes: desde a partilha de objectos pessoais até dormir juntos, na esperança de que o contágio ocorra. Mas não é líquido, ou desejável, que tal aconteça, segundo Laura Marques. «As taxas de transmissão aos contactos vão dos 60 aos 100 por cento», afirma a dirigente da SPP, para quem a interacção quotidiana «é suficiente para ocorrer contágio». E há sempre quem nunca apanhe varicela, por muito exposto que seja à doença. Tudo depende das circunstâncias e das respostas dadas pelo sistema imunitário.



B.I. da varicela




Agente – Vírus Varicela-zoster, da família dos vírus do herpes.



Idade mais frequente – Entre os dois e os dez anos.



Incubação – Entre 14 e 16 dias, com um intervalo mínimo de nove dias e máximo de 24 dias.



Sintomas – Pequenas manchas vermelhas que evoluem rapidamente para bolhas cheias de líquido e para crostas. A pele pode apresentar em simultâneo estes três estágios de lesões, acompanhadas de prurido intenso. Podem acontecer vários picos de febre, com intensidade dependente do número de vesículas na pele. Outros sinais incluem dores de cabeça, de garganta, de barriga e diminuição do apetite.



Órgãos mais afectados
– Pele (em especial, o tronco, a face e o couro cabeça) e mucosas (boca e genitais). n Contágio – Através da saliva, do conteúdo líquido das vesículas ou pelo ar até uma distância de dez metros. O risco é mais elevado em situações de contacto íntimo ou ambientes fechados.



Tempo de contágio
– Cerca de dois dias antes do aparecimento do exantema e até todas as lesões cutâneas apresentarem crosta.



Tratamento – Antipiréticos contra a febre, anti-histamínicos contra o prurido e higiene rigorosa. O melhor banho é o de chuveiro, com água tépida, e a secagem deve evitar romper as vesículas. As unhas devem estar o mais curtas possível, para que a pele e as bolhas não se rompam, no caso de a comichão ser insuportável e levar a que o doente se coce. Nunca deve ser administrado ácido acetilsalicílico ou derivados.



Complicações – Nas crianças habitualmente saudáveis, a mais frequente é a infecção bacteriana de algumas vesículas, provocada pelo arranhar. É aí que surgem as cicatrizes. Mais raramente, os doentes com patologias prévias na pele podem ter de fazer um tratamento mais intensivo com um medicamento antiviral. Quem tem varicela desenvolve imunidade permanente à doença. No entanto, o vírus pode ficar adormecido nas células do tecido nervoso e, mais tarde, manifestar-se sob a forma de Herpes Zoster, mais conhecido como «Zona».



Vacina – Constituída por vírus vivo atenuado e administrada em duas doses. Não é comparticipada nem incluída no Plano Nacional de Vacinação. A administração é feita em crianças dos 12 meses aos 12 anos, em doses de 0,5 ml e por via subcutânea e com um intervalo mínimo entre doses de três meses. A partir dos 13 anos, o intervalo mínimo vai das quatro às oito semanas.





In:pais&filhos
 
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