David Coulthard: "Desfrutei da viagem"
Menos de uma semana após a sua despedida do mundial de Fórmula 1, o escocês David Coulthard efectuou uma retrospectiva da sua extensa carreira, abordando diversos assuntos que marcaram a sua passagem pela modalidade.
Numa extensa entrevista à BBC Rádio Scotland, o agora ex-piloto afirmou que não se arrepende da sua decisão de abandonar a Fórmula 1, considerando que desfrutou da "viagem" que foi a sua década e meia de F1.
"Não sou de falar dos 'bons velhos tempos' porque acredito que os estou a viver agora. Perguntaram-me por diversas vezes, quais foram os momentos favoritos da minha carreira ou o que senti quando comecei em 1994, mas já foi há tanto tempo que nem me lembro dos detalhes. Apenas desfrutei da viagem", considerou o escocês, o quarto piloto com mais sucesso da modalidade em termos de pontos e o de mais sucesso entre os pilotos britânicos.
Ainda assim, Coulthard leva na memória algumas corridas em particular: "A primeira foi em França, em 2000. As pessoas lembrar-se-ão, provavelmente, porque mostrei o dedo do meio ao Michael Schumacher, algo de que não me orgulho porque não foi inteligente nem adulto, mas foi uma corrida repleta de frustração", começou por dizer, recordando que foi uma das suas melhores provas, a qual terminou com uma vitória.
"Outra foi a segunda vitória no Mónaco, porque liderei desde o início. Mónaco é um circuito em que não há margem para erros, que dura quase duas horas, é quente e fisicamente exigente - e eu liderei do princípio ao fim", referiu Coulthard, que nunca conquistou nenhum título, atribuindo as 'responsabilidades' por essa falha a Michael Schumacher, grande dominador da modalidade no passado.
"Ultimamente, tudo se resume à vitória, mas julgo que não tenho nenhuma falha por ter terminado atrás [no campeonato] daquele que se veio a revelar o piloto com mais sucesso da história do desporto. Ele venceu sete títulos - para mim, foi apenas um mau 'timing' participar na mesma época que o Schumacher".
Futuro ligado ao automobilismo
David Coulthard expressou ainda a sua admiração pela constante evolução tecnológica da Fórmula 1, bem como o incremento da segurança nos monolugares, pelo que "teria que ser tremendamente infeliz para que qualquer coisa grave acontecesse, mas pode-se dizer o mesmo da vida quotidiana - as pessoas podem atravessar a estrada e serem atropeladas", observou, acrescentando que a "vida é perigosa mas é tudo uma questão de estar preparado e tomar as precauções possíveis".
Em relação ao futuro do desporto, Coulthard não se confessa muito preocupado com os efeitos que a crise financeira possa ter na F1. "Inevitavelmente, em tempos como estes, as carteiras fecham-se e isso inclui o marketing. A F1 é, essencialmente, um desporto de marketing, onde os carros são cartazes a alta velocidade e com transmissão para muitas televisões no mundo", começou por dizer, explicando "que as equipas que não tiverem capacidade financeira irão sair, mas as que tiverem visão a longo prazo ficarão, porque é uma das melhores maneiras de levar o nome do produto a todo o mundo".
Quanto a si e ao seu futuro, Coulthard refere que irá "sentir falta da adrenalina de estar na grelha", mas garante que não se irá afastar do desporto motorizado. "Tenho um contrato com a Red Bull em que estarei envolvido no programa de jovens pilotos e irei ajudar a equipa de F1 a crescer", acrescentando ainda que irá testar o monolugar de vez em quando e "terei um filho para cuidar, pelo que irei passar muitas noites sem dormir. E eu não sou bom a acordar a meio da noite. Julgo que será a Karen Minier [sua noiva] a ter essa tarefa", gracejou. Coulthard congratulou ainda Lewis Hamilton pelo sucesso alcançado no Mundial de 2008: "Conheço-o desde pequeno. Ele é um piloto fantástico e merece o sucesso que tem tido", concluiu.AS