Luz Divina
GF Ouro
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Medos fóbicos
Medos fóbicos
na gravidez e no parto
A gravidez é o período temporal, de aproximadamente 40 semanas, entre o momento da concepção e o parto, caracterizada por específicas modificações corporais, acompanhadas das inerentes consequentes vivências psicológicas.
A notícia da gravidez vai trazer à superfície consciente da mulher imagens da sua mais recente e íntima história de vida. Ao mesmo tempo que se gerarão fantasias e sonhos, emergirão com maior realce medos e angústias.
Importante salientar, a este propósito, o dito popular de que gravidez não é doença. De facto, apesar da especificidade biológica que a caracteriza, a gravidez corresponde a um estado natural de saúde da vida da mulher.
Porque assim é, do que falamos são de medos naturais consequentes a angústias normais próprias da gravidez, situações que nada têm a ver com quadros patológicos deste tipo, pré-existentes à gravidez e que exigem adequado acompanhamento e tratamento específico.
Ao saber-se grávida, há fragmentos de memória que, adormecidos, acordam para suscitar reacções, múltiplas e diversas, emergindo antigos conflitos a processos relacionados com a infância, ser menina, ser filha de sua mãe, etc.
O aumento de volume dos seios, a barriga a crescer, o peso a aumentar, as mudanças hormonais e a sua atitude em relação às pressões culturais e expectativas, fazem da sua gravidez uma experiência única. Cada mudança física causada pela gravidez é acompanhada por uma característica psicológica específica que afecta a percepção daquele período específico da gravidez.
Nesta fase, a mulher vive um período de conflitos e de encruzilhadas entre passado, presente e futuro, sendo diferentes, na forma e conteúdo, as ambivalências próprias de cada um dos três períodos da gravidez.
Primeiro Trimestre
O 1º trimestre é a fase da incorporação da situação, ou seja, do desenvolvimento psicológico da gravidez e o período onde ocorrem várias alterações psicológicas. Uma das mais marcantes é a instabilidade emocional, com as grandes e súbitas sucessões de altos e baixos, mais marcantes durante a 1ª gravidez, e que podem deixar a mulher confusa com a situação.
Momentos de irritabilidade e choro, frequentes e fáceis, sem razões objectivas, bem como estados de ansiedade, zanga, consigo e os mais próximos, e depressão são alterações emocionais constantes, mais ou menos acentuadas consoante a personalidade e o ambiente sócio-familiar da mulher.
A ambivalência, característica deste período, é reforçada pela modificação corporal. A deformação gravídica é motivo de satisfação e contentamento porque é consequência do crescimento do seu bebé mas, ao mesmo tempo, o aumento de peso e volume fazem-na perder a elegância que, por não saber se a recuperará, é motivo de angústia, podendo mesmo assumir um medo grave, com marcada repercussão na auto-estima.
Também o risco de aborto espontâneo que, neste trimestre é da ordem dos 20%, pode ser causa de angústia e ansiedade dificilmente controladas, pelo medo de perca.
Normalmente vividos com alguma ansiedade, os momentos que antecedem a 1ª Ecografia podem ser razão de angústia descontrolada, pela ambivalência de sentimentos entre a alegria de ir finalmente ver pela 1ª vez o seu bebé, e o medo de que alguma coisa não esteja bem com ele.
Segundo Trimestre
Após o stress emocional e a ansiedade do 1º trimestre, o 2º trimestre, habitualmente calmo e de emoções menos fortes, é o tempo de gravidez que a mulher vive com sensação de maior bem-estar porque já passou o medo de abortar e desapareceram os desconfortos físicos do primeiro trimestre.
O momento mais importante deste período é quando a mãe sente pela 1ª vez o seu filho/a mexer, o que acontece, habitualmente, por volta da vigésima semana. É no 2º trimestre da gravidez que a mulher realiza a existência de um outro ser que traz dentro de si e que é o seu filho. São dois corpos diferentes, um dentro do outro, duas pessoas diferentes que vivem sob a mesma pele.
É a fase do desenvolvimento psicológico denominado por diferenciação. Psicologicamente, a mulher pode sentir-se mais dependente de seu parceiro. Fica mais carente do que o normal e pode ficar preocupada se ele estará disponível, interessado, ou se terá capacidade para a apoiar durante este período de mudanças.
A sexualidade pode ser motivo de preocupação porque o “apetite sexual” da mulher, habitualmente, aumenta e muitos casais têm medo de manter a sua actividade normal face às fantasiosas vozes do povo que dizem que podem afectar o feto, provocando-lhe malformações. A este propósito o único cuidado a respeitar é o da comodidade física da mulher.
Terceiro Trimestre
O 3º trimestre de gravidez é o da preparação, psicológica, emocional e física, para o parto que é outro momento ambivalente da mulher. Por um lado o bebé vai nascer, o que lhe permitirá ir, finalmente, poder ter o seu filho nos braços. Tudo isto depois do longo período em que, com grande cansaço físico, a última ecografia é vivida com grande ansiedade e emoção!
O bebé está formado – mas… será que é completamente normal? – e ao olhar para o ecrã do ecógrafo, quer tocá-lo, agarrá-lo e pegar-lhe – mas… o momento do parto nunca mais chega! - Partilhado com o medo ancestral, não despiciendo, da hora do parto – que… se deseja seja pequena! -, este oceano de emoções é também de angústia sobre a nova fase de vida, se saberá identificar os sinais de parto, se a criança irá nascer antes do tempo, se o bebé é normal.
A ambivalência acentua-se porque o parto é, também, o momento da separação, em que o novo ser, continuando dependente dela, deixa de ser só seu para passar a ser outra pessoa, diferente dela e com vida própria. Vários são as preocupações, curiosidades, ou medos, que surgirão sobrepostos como um turbilhão de pensamentos… Será que o bebé está bem? Será que é perfeito? Poderá ser prematuro? Como será o parto? Irei suportar as dores? Com quem será parecido? Serei uma boa mãe? Serei capaz de cuidar de um bebé tão pequenino? Terei leite? Etc, etc…
Pela sua natureza e força para mobilizar grandes níveis de ansiedade, expectativas e medos, o parto não é um evento neutro. É um momento extremamente importante na vida de uma mulher em que mãe e bebé se vão, finalmente, encontrar frente a frente, sendo a experiência de dar à luz tão marcante que, durante anos, o momento e os sentimentos vividos durante o nascimento do bebé são recordados aos mínimos detalhes.
Para a mulher, é o momento de se confrontar com o bebé real, provavelmente, diferente do tão sonhado bebé imaginário, idealizado durante os 9 meses de gestação. É o tempo de se deparar com uma “obra sua”, produto objectivo da sua capacidade feminina de gerar uma criança e competência materna de cuidar, bem como de pôr à prova a sua resistência física de suportar as dores.
Uma chamada de atenção para a Tocofobia, ou Fobia no Parto, situação patológica de grande significado psico-afectivo em que no desenvolvimento de situações desconfortáveis do passado, de rejeição familiar, insegurança e outros mais simples como uma gravidez anterior complicada, as mulheres desistem de ter os seus filhos.
Reforçando a ideia de que a gravidez não é doença, direi que sendo um período fisiológico e uma fase normal e de saúde da vida da mulher, está carregada de valores com grande significado simbólico que apela a muitos ajustes e transformações internas. A gravidez, o nascimento e a maternidade vão alterar irreversivelmente a condição de vida da mulher que, deixará de só filha, para passar a ser e assumir o papel de mãe.
É um período que, se for vivido como um tempo de preparação para o papel de mãe e para o início de um saudável relacionamento com o seu bebé, pode ser muito enriquecedor, de fortalecimento e uma experiência auto-reparadora para a Mulher e Mãe.
Texto: Dra Rita Antunes Varela Bicha Castelo, Mestre em Psicologia da Saúde, Psicoterapeuta – Terapeuta Familiar – Hospital Cuf Infante Santo
sapofamilia
Medos fóbicos
na gravidez e no parto

A gravidez é o período temporal, de aproximadamente 40 semanas, entre o momento da concepção e o parto, caracterizada por específicas modificações corporais, acompanhadas das inerentes consequentes vivências psicológicas.
A notícia da gravidez vai trazer à superfície consciente da mulher imagens da sua mais recente e íntima história de vida. Ao mesmo tempo que se gerarão fantasias e sonhos, emergirão com maior realce medos e angústias.
Importante salientar, a este propósito, o dito popular de que gravidez não é doença. De facto, apesar da especificidade biológica que a caracteriza, a gravidez corresponde a um estado natural de saúde da vida da mulher.
Porque assim é, do que falamos são de medos naturais consequentes a angústias normais próprias da gravidez, situações que nada têm a ver com quadros patológicos deste tipo, pré-existentes à gravidez e que exigem adequado acompanhamento e tratamento específico.
Ao saber-se grávida, há fragmentos de memória que, adormecidos, acordam para suscitar reacções, múltiplas e diversas, emergindo antigos conflitos a processos relacionados com a infância, ser menina, ser filha de sua mãe, etc.
O aumento de volume dos seios, a barriga a crescer, o peso a aumentar, as mudanças hormonais e a sua atitude em relação às pressões culturais e expectativas, fazem da sua gravidez uma experiência única. Cada mudança física causada pela gravidez é acompanhada por uma característica psicológica específica que afecta a percepção daquele período específico da gravidez.
Nesta fase, a mulher vive um período de conflitos e de encruzilhadas entre passado, presente e futuro, sendo diferentes, na forma e conteúdo, as ambivalências próprias de cada um dos três períodos da gravidez.
Primeiro Trimestre
O 1º trimestre é a fase da incorporação da situação, ou seja, do desenvolvimento psicológico da gravidez e o período onde ocorrem várias alterações psicológicas. Uma das mais marcantes é a instabilidade emocional, com as grandes e súbitas sucessões de altos e baixos, mais marcantes durante a 1ª gravidez, e que podem deixar a mulher confusa com a situação.
Momentos de irritabilidade e choro, frequentes e fáceis, sem razões objectivas, bem como estados de ansiedade, zanga, consigo e os mais próximos, e depressão são alterações emocionais constantes, mais ou menos acentuadas consoante a personalidade e o ambiente sócio-familiar da mulher.
A ambivalência, característica deste período, é reforçada pela modificação corporal. A deformação gravídica é motivo de satisfação e contentamento porque é consequência do crescimento do seu bebé mas, ao mesmo tempo, o aumento de peso e volume fazem-na perder a elegância que, por não saber se a recuperará, é motivo de angústia, podendo mesmo assumir um medo grave, com marcada repercussão na auto-estima.
Também o risco de aborto espontâneo que, neste trimestre é da ordem dos 20%, pode ser causa de angústia e ansiedade dificilmente controladas, pelo medo de perca.
Normalmente vividos com alguma ansiedade, os momentos que antecedem a 1ª Ecografia podem ser razão de angústia descontrolada, pela ambivalência de sentimentos entre a alegria de ir finalmente ver pela 1ª vez o seu bebé, e o medo de que alguma coisa não esteja bem com ele.
Segundo Trimestre
Após o stress emocional e a ansiedade do 1º trimestre, o 2º trimestre, habitualmente calmo e de emoções menos fortes, é o tempo de gravidez que a mulher vive com sensação de maior bem-estar porque já passou o medo de abortar e desapareceram os desconfortos físicos do primeiro trimestre.
O momento mais importante deste período é quando a mãe sente pela 1ª vez o seu filho/a mexer, o que acontece, habitualmente, por volta da vigésima semana. É no 2º trimestre da gravidez que a mulher realiza a existência de um outro ser que traz dentro de si e que é o seu filho. São dois corpos diferentes, um dentro do outro, duas pessoas diferentes que vivem sob a mesma pele.
É a fase do desenvolvimento psicológico denominado por diferenciação. Psicologicamente, a mulher pode sentir-se mais dependente de seu parceiro. Fica mais carente do que o normal e pode ficar preocupada se ele estará disponível, interessado, ou se terá capacidade para a apoiar durante este período de mudanças.
A sexualidade pode ser motivo de preocupação porque o “apetite sexual” da mulher, habitualmente, aumenta e muitos casais têm medo de manter a sua actividade normal face às fantasiosas vozes do povo que dizem que podem afectar o feto, provocando-lhe malformações. A este propósito o único cuidado a respeitar é o da comodidade física da mulher.
Terceiro Trimestre
O 3º trimestre de gravidez é o da preparação, psicológica, emocional e física, para o parto que é outro momento ambivalente da mulher. Por um lado o bebé vai nascer, o que lhe permitirá ir, finalmente, poder ter o seu filho nos braços. Tudo isto depois do longo período em que, com grande cansaço físico, a última ecografia é vivida com grande ansiedade e emoção!
O bebé está formado – mas… será que é completamente normal? – e ao olhar para o ecrã do ecógrafo, quer tocá-lo, agarrá-lo e pegar-lhe – mas… o momento do parto nunca mais chega! - Partilhado com o medo ancestral, não despiciendo, da hora do parto – que… se deseja seja pequena! -, este oceano de emoções é também de angústia sobre a nova fase de vida, se saberá identificar os sinais de parto, se a criança irá nascer antes do tempo, se o bebé é normal.
A ambivalência acentua-se porque o parto é, também, o momento da separação, em que o novo ser, continuando dependente dela, deixa de ser só seu para passar a ser outra pessoa, diferente dela e com vida própria. Vários são as preocupações, curiosidades, ou medos, que surgirão sobrepostos como um turbilhão de pensamentos… Será que o bebé está bem? Será que é perfeito? Poderá ser prematuro? Como será o parto? Irei suportar as dores? Com quem será parecido? Serei uma boa mãe? Serei capaz de cuidar de um bebé tão pequenino? Terei leite? Etc, etc…
Pela sua natureza e força para mobilizar grandes níveis de ansiedade, expectativas e medos, o parto não é um evento neutro. É um momento extremamente importante na vida de uma mulher em que mãe e bebé se vão, finalmente, encontrar frente a frente, sendo a experiência de dar à luz tão marcante que, durante anos, o momento e os sentimentos vividos durante o nascimento do bebé são recordados aos mínimos detalhes.
Para a mulher, é o momento de se confrontar com o bebé real, provavelmente, diferente do tão sonhado bebé imaginário, idealizado durante os 9 meses de gestação. É o tempo de se deparar com uma “obra sua”, produto objectivo da sua capacidade feminina de gerar uma criança e competência materna de cuidar, bem como de pôr à prova a sua resistência física de suportar as dores.
Uma chamada de atenção para a Tocofobia, ou Fobia no Parto, situação patológica de grande significado psico-afectivo em que no desenvolvimento de situações desconfortáveis do passado, de rejeição familiar, insegurança e outros mais simples como uma gravidez anterior complicada, as mulheres desistem de ter os seus filhos.
Reforçando a ideia de que a gravidez não é doença, direi que sendo um período fisiológico e uma fase normal e de saúde da vida da mulher, está carregada de valores com grande significado simbólico que apela a muitos ajustes e transformações internas. A gravidez, o nascimento e a maternidade vão alterar irreversivelmente a condição de vida da mulher que, deixará de só filha, para passar a ser e assumir o papel de mãe.
É um período que, se for vivido como um tempo de preparação para o papel de mãe e para o início de um saudável relacionamento com o seu bebé, pode ser muito enriquecedor, de fortalecimento e uma experiência auto-reparadora para a Mulher e Mãe.
Texto: Dra Rita Antunes Varela Bicha Castelo, Mestre em Psicologia da Saúde, Psicoterapeuta – Terapeuta Familiar – Hospital Cuf Infante Santo
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