Banco de Tempo: Mulheres são as maiores utilizadoras
Banco de Tempo: Mulheres são as maiores utilizadoras
05 de Abril de 2008, 10:15
Lisboa, 05 Abr (Lusa) - São as mulheres quem mais procura o Banco de Tempo em Portugal, com 18 agências em funcionamento, sendo a mais movimentada em Ponta Delgada e que, domingo, abre mais uma Vagos, já com 96 inscritos.
A agência de Vagos, no Distrito de Aveiro, abre portas quando passam pouco mais de seis anos sobre o surgimento da primeira, que arrancou em Abrantes, a 28 de Janeiro de 2002, com o objectivo de mobilizar talentos e disponibilidades individuais em prol da comunidade - uma filosofia subjacente a todo o projecto.
Segundo Eliana Madeira, que apoia a constituição de novas agências e acompanha o funcionamento das existentes, o espaço a inaugurar domingo "terá como parceiros locais o Centro Social Paroquial de Calvão, a Caixa de Crédito Agrícola, os jornais O Ponto e Terras de Vagos e a estação de rádio Vagos FM".
Com esta nova agência, passam a existir 18 em funcionamento no continente e ilhas - Póvoa de Varzim, Porto, Valongo, Castelo Branco, Coimbra, Torres Novas, Abrantes, Alverca, Portela, Sintra, Montijo, Lisboa (Lumiar e Nossa Senhora de Fátima), Quarteira, Funchal (Madeira), Ponta Delgada e Praia da Vitória (Açores) - além de um Mini-Banco de Tempo, apenas com crianças, na Póvoa de Varzim.
O número de agências oscila constantemente, pois algumas encerram, como sucedeu com as da Amadora, Ílhavo, Matosinhos, São João da Madeira ou Telheiras (Lisboa) "e outras vão surgindo, caso da de Alcanena, que é inaugurada a 18 de Maio, e as da Lousã e de Cascais, com abertura prevista para breve e que já funcionam informalmente", explicou Eliana Madeira, membro do Graal, movimento internacional de mulheres com uma filosofia cristã que trouxe o Banco de Tempo para Portugal.
O Banco de Tempo propõe que cada inscrito ofereça horas de trabalho numa área que domine, podendo, por sua vez, recorrer ao auxílio gratuito noutros sectores, sendo o processo mediado pela agência em que os membros estão inscritos.
Ou seja, uma pessoa que tenha tempo pode fazer gratuitamente o acompanhamento de crianças (tomar conta delas, levá-las ou ir buscá-las à escola, ajudá-las a fazer os trabalhos de casa, brincar com elas) pode receber em troca, de forma igualmente grátis, um serviço de carpintaria ou jardinagem.
A prestação de um serviço a um membro não implica que tenha de ser o mesmo a retribuir, pois é a agência que procede a essa gestão, em função da área de intervenção e da disponibilidade momentânea de cada elemento.
Na opinião da responsável, o Banco de Tempo "cria uma valor acrescentado junto dos participantes e das comunidades onde estes se inserem", na medida em que "incentiva algumas pessoas a quebrar o isolamento em que vivem, fomentando a vertente solidária e altruísta de cada um".
"Os nossos objectivos iniciais incluíam criar um suporte para uma melhor conciliação da vida familiar com a profissional, nomeadamente ajudando nas rotinas do casal, bem como tentar fortalecer as relações de vizinhança e reforçar a actividade da sociedade civil", declarou Eliana Madeira à agência Lusa, acrescentando que, paradoxalmente, "tem-se verificado que há bastante mais inscritos a oferecer serviços do que a requisitá-los".
Com cerca de mil inscritos no total das várias agências e uma representação feminina de 70 por cento, o Banco de Tempo privilegia os serviços que não existem no mercado.
"Os serviços que se trocam são sobretudo ajudas, como acompanhar uma pessoa ao médico ou ir buscar-lhe os filhos à escola. Não se pretende trocar uma consulta de psicologia por outra de aconselhamento jurídico, embora as pessoas possam trocar horas de conversa nestas áreas", esclareceu a responsável, segundo a qual a agência com maior fluxo de trocas é a de Ponta Delgada.
O Banco de Tempo inspirou-se em projectos similares que apareceram no início da década de 90 em Itália e no exemplo espanhol, com o qual o movimento contactou em Barcelona no início de 2001.
As agências do Banco têm, em média, 50 inscritos, e o tempo de cada pessoa vale o mesmo, seja o de um canalizador, professor, electricista ou advogado.
Para se ser membro do Banco de Tempo basta ir a uma entrevista numa agência, preencher uma ficha de membro (indicando contactos, pessoas de referência e serviços a oferecer/pedir) e comprometer-se a cumprir as regras de funcionamento, recebendo em troca um cartão, cheques e a listagem de serviços disponíveis na agência.
Tudo o que cada membro acumula é um crédito em tempo. Para manter as contas certas, no final da prestação de um serviço o beneficiário passa um cheque com o número de horas e quem o recebe tem de entregá-lo na agência para que sejam feitos os movimentos de crédito e débito nas contas.
Bricolage (pequenas reparações, arranjos de carpintaria, de electricidade, etc), ajuda doméstica (lavar o carro, a loiça, compras de supermercado, ir ao correio, à farmácia, pagar as contas, limpar o pó, passar a ferro) e cozinha e lavores (fazer um prato especial, cozinhar refeições para congelar, arranjos de costura, bordados, ponto cruz, croché/tricô) são algumas das áreas de trabalho possíveis.
Fazer tarefas de secretariado (como correcções literárias, processamento de texto ou preenchimento de documentos), auxiliar na jardinagem, acolher ou tratar de animais ou plantas durante um período de férias, fazer acompanhamento (numa consulta ao médico, num passeio pela cidade, numa ida ao cinema), contar histórias, ler alto, dar explicações ou lições de qualquer disciplina ou ensinar a estudar também são contributos aceites.
HSF.
Fonte:Lusa/fim