Restaurantes de Lisboa e Porto admitem congelar peixe ou alterar ementas
Restaurantes de Lisboa e Porto admitem congelar peixe ou alterar ementas caso greve se prolongue.
Os proprietários dos restaurantes de peixe e marisqueiras do Porto e de Lisboa admitem fazer 'stock' de peixe congelado ou alterar as ementas, caso a greve marcada pelos armadores e pescadores se mantenha por tempo indeterminado.
Numa ronda feita pela agência Lusa em alguns destes restaurantes, os proprietários mostraram-se «preocupados» com a falta de peixe, que poderá gerar a paralisação que se iniciou às 00h00 de hoje por tempo indeterminado, mas asseguraram que as soluções para contornar esta greve estão já a ser pensadas.
No entanto, a prolongar-se a paralisação dos pescadores e dos armadores, os proprietários temem que as tradicionais festas de Santo António (13 de Junho) e S. João (24 de Junho) deste ano estejam «ameaçadas» pela falta ou escassez de sardinha, que nesta época se serve em abundância.
Preocupado com a situação, o gerente do Restaurante dos Lusíadas, em Matosinhos, Serafim Miranda, disse que «já começaram a fazer alguma reserva de peixe» para quatro dias.
«Comprámos [nos últimos dias] em mais quantidade para congelar. Faltando o peixe fresco, vamos começar a vender peixe congelado, informando sempre o cliente», explicou.
«Se a greve durar mais tempo, teremos de importar peixe do Chile e do Brasil e, em último recuso, usar peixe da aquacultura», afirmou Serafim Miranda.
Ainda assim, Serafim Miranda duvida que os pescadores de pesca tradicional, com embarcações mais pequenas, aguentem muito tempo em greve.
Caso tenha que recorrer à importação e à aquacultura, isso vai notar-se na ementa do restaurante, porque vai passar a estar apenas disponível, o robalo e o linguado, provenientes da aquacultura, o cherne, importado do Chile e do Brasil, e a pescada, da África do Sul.
A estratégia da proprietária de O Malcriado - um dos mais antigos restaurantes de peixe de Matosinhos (com 34 anos de actividade) - Alexandrina Avelino da Costa também está a ser a de fazer 'stock' que lhe assegure a actividade durante pelo menos oito dias, mas a sardinha do S. João é a que mais a preocupa.
«Arriscam-se a ser as primeiras em que o restaurante vai servir sardinha congelada», disse a proprietária, que quinta de manhã comprou sardinha a mais e à tarde foi à lota abastecer-se do restante peixe, em quantidades superiores às normais para colocar numa câmara de refrigeração.
«Quando o peixe acabar terei que me sujeitar. Se os outros fecharem eu também fecho. Se começaram a trabalhar com peixe congelado ou importado [da América] eu também começo», confessou à Lusa.
Entretanto, a proprietária de 77 anos, disse já ter acordado com «um conhecido que pesca à cana», que lhe irá vender todo o peixe que pescar.
«Caso a greve se prolongue por muito tempo temos de mudar a ementa, começar a vender carne e reduzir em grande parte os pratos de peixe», disse. Mais optimista, o responsável do restaurante marisqueira 7 Mares, em Lisboa, acredita «que tudo se irá resolver a tempo».
Este restaurante, que vive e é reconhecido pelo peixe e marisco que tem, não poderá mudar a ementa, porque, de outra forma, «o negócio não resultaria», afirmou.
Questionado sobre se admite comprar peixe congelado ou de outros mercados, o responsável disse que essa solução «está fora de questão», pois tem «algum marisco de reserva, que, dependendo do movimento, dará para manter 2 ou 3 semanas».
Para este responsável, no entanto, as festas populares com certeza que irão ser penalizadas pela greve.
«Falta pouquíssimo tempo e caso esta greve vá em frente como o esperado, certamente não haverá sardinhas frescas e do mercado português», disse.
Em Lisboa, a responsável pelo restaurante japonês Aya, Carmen Mo, disse à Lusa que já falou com os seus fornecedores que alertou «para a complicada situação que poderá haver no mercado de peixe português» nos próximos dias.
Mas como temos outros fornecedores de outros mercados creio que não iremos sentir muita dificuldade, até porque este restaurante vive muito de peixes grandes como o atum, o salmão de cativeiro e peixes brancos como a dourada e o robalo por exemplo, explicou.
Comprar peixe congelado está «fora de questão», garantiu.
«Temos sorte de os responsáveis serem japoneses e conseguirem negociar com outros mercados, porque caso isso não fosse possível então a situação seria complicada. Este tipo de restaurantes sem peixe obviamente que não sobrevivem», disse.
O responsável pelo restaurante Mercado do Peixe, na zona Ajuda, também em Lisboa, confessou, por sua vez, ter um fornecedor que não irá participar na greve, e que garantiu que vai continuar a arranjar as mesmas quantidades de peixe.
«Nem sequer ponderámos a hipótese de outros mercados ou peixe congelado, porque temos plena confiança no nosso fornecedor que nos deu garantias que não íamos ter alguma dificuldade», assegurou.
Lusa/SOL