Carreira de Hamilton é marcada por precocidade
Tudo na carreira do campeão de 2008 foi bem prematuro, mas sem imaturidade. Aos dez anos, em 1995, Lewis Hamilton já sabia o que queria da vida: ser piloto da McLaren. O inglês, durante festa de premiação da revista "Autosport", disse o seguinte ao seu futuro chefe, Ron Dennis, ao pedir autógrafo: "Oi. Sou Lewis Hamilton. Venci o campeonato britânico [de kart] e um dia quero pilotar seus carros".
Mas Hamilton já era um amante do automobilismo desde 1991, ano em que seu pai, Anthony, deu-lhe um carrinho de controle remoto. O pequeno Lewis saiu-se tão bem que disputou um campeonato nacional contra pilotos bem mais velhos e destacou-se.
Aos oito anos, em 1993, Hamilton estreou no kart na Cadete e ainda conquistou títulos de torneios como o Campeões do Futuro. No ano seguinte, ele subiu para a Júnior Yamaha, na qual foi novamente campeão britânico e obteve outras conquistas.
Anthony, filho de pais caribenhos, era funcionário da British Railways, empresa de trens inglesa, e ainda tinha outros empregos para conseguir financiar a carreira do filho, cujo nome, Lewis Carl, é uma homenagem a Carl Lewis, atleta norte-americano medalha de ouro nas Olimpíadas de 1984, 1988, 1992 e 1996. Ainda sobre a família, os pais de Hamilton se separaram quando ele tinha dois anos e o piloto ficou com a mãe até a pré-adolescência, quando passou a viver com o pai.
Naquele encontro de 1995, Dennis tinha escrito no papel autografado: "Ligue-me em nove anos". Então, em 1998, a McLaren assinou com aquele pré-adolescente negro, que aos 13 anos tornou-se o piloto mais jovem a ter contrato com uma equipe de F-1. Os papéis incluíam suporte financeiro e técnico, com o objetivo de levá-lo à categoria máxima do automobilismo.
Naquele ano, Hamilton foi para categoria Júnior Intercontinental A e ficou em segundo lugar no Campeões do Futuro da McLaren. Ele ainda correu no Aberto Italiano, terminando na quarta colocação.
O inglês foi relativamente bem-sucedido em 1999, quando foi vice-campeão europeu de kart, faturou o Troféu de Pomposa e novamente ficou em quarto lugar no Aberto Italiano.
Em 2000, o inglês conquistou mais títulos no kart: levou o Europeu de Fórmula A, tendo vencido todas as quatro etapas, e ainda conquistou o título mundial no Japão.
Hamilton teve o primeiro desafio contra um piloto de F-1 em 2001, quando correu contra Michael Schumacher em Kerpen, na Alemanha, onde acabou perdendo para o alemão.
Em 2002, Lewis saiu do kart e estreou nas F-Renault européia e britânica. Na de seu país, ele foi o terceiro colocado, conquistando três vitórias pela equipe Manor Motorsport.
A carreira de Hamilton expandiu-se em 2003, quando ele venceu o campeonato da F-Renault britânica, correu na alemã e fez duas corridas na F-3 inglesa.
Ainda com a Manor Motorsport, Lewis disputou o campeonato da F-3 européia em 2004 e foi o quinto colocado, conquistando uma vitória. Ele ainda fez o Masters e Macau, onde foi o pole position.
O jovem piloto mostrou realmente a que vinha em categorias de monopostos em 2005. Com a ASM, faturou o título da F-3 européia com impressionante quantidade de vitórias _ 15_ e ainda levou o Masters, onde obteve a pole, a vitória e a volta mais rápida.
Hamilton ficou às portas da F-1 em 2006, pois saiu da GP2 em seu primeiro ano já como campeão. O piloto da ART venceu cinco vezes na temporada e deixou o brasileiro Nelsinho Piquet com o vice.
Foi aí que a McLaren precisou de alguém para ser companheiro do bicampeão Fernando Alonso em 2007. Hamilton disputou a vaga com o piloto de testes da equipe inglesa, Pedro de la Rosa, e, maduro, tornou-se o primeiro negro a ser piloto titular da F-1.
Na F-1
O fato de Hamilton ser o primeiro negro a correr na categoria foi motivo de destaque antes mesmo da abertura da temporada 2007.
Como ele não foi piloto de testes, questionava-se se ele já estaria pronto para a F-1, mas as dúvidas foram dissipadas no primeiro GP do ano, na Austrália, no qual largou em quarto lugar e obteve um pódio com uma terceira colocação.
De maneira impressionante, o então novato alcançou uma seqüência de pódios de Melbourne até Mônaco, as cinco primeiras corridas da temporada. Neste intervalo, ele havia assumido temporariamente a liderança do campeonato após a quarta etapa, na Espanha.
As ruas do principado foram palco de polêmica. A McLaren mudou a estratégia do inglês, que faria apenas um pit stop, mas acabou fazendo dois, enquanto Alonso comandou a dobradinha prateada. O inglês reclamou após esse episódio e, em resposta, o time passou a apoiá-lo mais.
As primeiras conquistas vieram logo na seqüência, no Canadá, onde Hamilton levou a pole e a vitória, suas primeiras na categoria.
O inglês repetiu o feito nos Estados Unidos e, a essa altura, já tinha dez pontos a mais que Alonso. No GP da França, aumentou para 14 pontos e só foi diminuir para 12 na Inglaterra.
A seqüência de pódios só foi encerrada em julho, no GP da Europa, em Nurburgring. Na chuva, Hamilton foi o nono colocado em um final de semana em que teve problemas em seu carro, uma rodada e até a ajuda de um guindaste para voltar à pista.
A tensão máxima entre Hamilton e Alonso ocorreu no treino classificatório da corrida seguinte, em Hungaroring. O espanhol ficou parado nos boxes no Q3 por mais tempo do que o necessário e impediu que o inglês fizesse outra volta rápida, porque não houve tempo. Por isso, Alonso foi punido: era para ter sido o pole, mas largou em sexto lugar, deixando a primeira posição no grid de largada para o desafeto. O resultado disso foi que Hamilton venceu e a diferença entre os dois subiu para sete pontos.
Alonso brigou com Ron Dennis após o episódio do sábado húngaro. Hamilton foi o maior beneficiado disso, pois pôde receber mais atenção ainda da diretoria da McLaren.
A rivalidade entre os dois ficou evidente na largada do GP da Bélgica, em Spa, quando Alonso partiu para cima de Hamilton e jogou-o para fora do traçado. Kimi Raikkonen acabou vencendo a prova e o inglês da McLaren foi o quarto, mantendo uma diferença de dois pontos para seu companheiro espanhol, que havia sido o terceiro colocado.
O campeonato pareceu tomar seu rumo final na etapa seguinte, no Japão, onde Lewis Hamilton venceu sem maiores dificuldades e Fernando Alonso acabou abandonando a prova.
Com efeito, Lewis chegou para o penúltimo GP pronto para assegurar o título com antecipação na China. O final de semana até havia começado bem para o inglês, que havia obtido a pole e andava em um ritmo muito mais forte que as Ferrari. Mas, na corrida, o piloto ficou parado na brita quando estava entrando nos boxes e abandonou.
No Brasil, onde precisava apenas terminar em quinto para se tornar campeão, Hamilton largou em segundo, mas, após uma série de erros na primeira volta, terminou apenas em sétimo. Enquanto isso, para sua decepção, Kimi Raikkonen venceu a prova e faturou o título.
Após a temporada 2007, a rivalidade entre Alonso e Hamilton acabou com o espanhol decidindo deixar a equipe para voltar para a Renault, enquanto o inglês recebia o modesto Heikki Kovalainen como seu novo companheiro para o ano seguinte.
Sem Alonso do seu lado, Hamilton assumiu claramente o posto de número 1 da McLaren e começou a temporada 2008 conquistando o GP da Austrália e dando mostras de que voltaria a brigar pelo título.
Depois de corridas discretas na Malásia e no Bahrein, mais dois pódios na Espanha e na Turquia, Lewis voltou a brilhar no badalado GP de Mônaco, onde venceu e reassumiu a liderança do campeonato, com três pontos de vantagem para Kimi Raikkonen.
Contudo, graças à sua ansiedade, Lewis Hamilton cometeu dois erros infantis nas duas etapas seguintes. No Canadá, o inglês não percebeu o fechamento dos boxes e acertou a traseira de Raikkonen na saída do pitlane, tirando ambos da corrida. Na corrida seguinte, na França, Hamilton ultrapassou Sebastian Vettel cortando caminho por fora da pista. A manobra não passou impune e ele acabou recendo um drive-through, terminando a prova em 10º.
Foi justamente após a corrida em Magny-Cours que Felipe Massa assumiu a liderança do campeonato e passou a despontar como o grande rival de Hamilton para esta temporada.
Lewis se recuperou de seus erros venceu as duas etapas seguintes, na Inglaterra e na Alemanha e reassumiu a ponta do campeonato. Em Hungaroring, contudo, ele ficou na quinta colocação depois de ter largado na pole. Contudo, o inglês só não perdeu a liderança porque Felipe Massa perdeu a chance de vencer a prova graças à quebra de seu motor a três voltas do fim. A vitória ficou com Heikki Kovalainen, companheiro de Hamilton.
Após ver o rival brasileiro vencer o GP da Europa, Hamilton venceu na Bélgica, mas não levou. Isto porque a direção de prova entendeu que sua manobra sobre Kimi Raikkonen havia sido ilegal e, com isto, o inglês recebeu uma punição de 25 segundos e a vitória ficou nas mãos de Felipe Massa.
Na Itália, Massa foi o sexto e Hamilton o sétimo. Já na etapa seguinte, em Cingapura, Hamilton não fez mais do que levar o terceiro lugar, em uma corrida na qual seu rival brasileiro teve problemas nos boxes e terminou apenas em 13º.
A essas alturas, Hamilton liderava o Mundial com sete pontos de vantagem para Massa e, começava a se isolar de vez na liderança do campeonato. Contudo, o inglês deu um susto em seus fãs no Japão, onde foi agressivo em excesso, errou e terminou a corrida em 12º, em uma corrida onde havia sido o pole. Com o sétimo lugar de seu rival da Ferrari, Lewis viu sua folga na liderança reduzida para cinco pontos.
Criticado por sua atitude em Fuji, Hamilton respondeu na etapa da China, onde sobrou na pista e conquistou uma vitória que não só o fez recuperar a diferença de sete pontos para Massa, como também o deixou bem posicionado para sacramentar o título na casa de seu adversário, o Brasil.
Apoiado pela torcida local em Interlagos, Massa fez a pole, venceu a corrida e obteve a volta mais rápida. Contudo, Hamilton, que só precisava chegar na quinta posição, chegou exatamente nessa colocação e, enfim, pode comemorar seu primeiro título na categoria máxima do automobilismo.
Lewis Hamilton agora é o piloto mais jovem a ser campeão da F-1, com 23 anos, nove meses e 26 dias.
Fonte: UOL Esporte