madeleine desaparecida há 43 dias
A PJ vai avançar hoje em força para a zona de Odiáxere, a cerca de 15 quilómetros da Praia da Luz, de onde desapareceu Madeleine. A Judiciária quer determinar de uma vez por todas se a menina inglesa estará enterrada no local indicado numa carta anónima enviada para um jornal holandês. O Correio da Manhã sabe que já foram requisitados cães de busca à GNR
A operação prevista para hoje está a ser preparada desde há três dias, altura em que a PJ recebeu da polícia holandesa cópias da carta anónima e dos mapas que a acompanhavam. Os inspectores têm vindo a trabalhar de forma discreta, conseguindo escapar à curiosidade das dezenas de jornalistas, portugueses e estrangeiros, que se encontram instalados na zona de Odiáxere.
O levantamento da zona permitiu à Judiciária identificar uma área como sendo aquela que é referida na carta anónima, pelo que decidiu avançar hoje com intensas buscas na zona. A operação deverá arrancar ao romper do dia.
O nosso jornal apurou que a PJ solicitou ontem à GNR que fossem enviados para o Algarve cães de busca e salvamento, especializados na detecção de odores humanos – mesmo que as vítimas estejam soterradas. As equipas cinotécnicas vêm de Queluz, onde se situa a Escola da Guarda.
A pista holandesa indica que a menina inglesa, de quatro anos, estará morta e enterrada a cerca de 15 quilómetros da Praia da Luz, numa zona situada a Norte da Via do Infante, próximo de Odiáxere (Lagos), a seis ou sete metros de uma estrada rural e coberta com pedras e arbustos.
No ano passado, uma pista idêntica, também enviada ao jornal ‘De Telegraaf’, permitiu encontrar os corpos de duas meninas belgas, Stacey Lemmens, de 7 anos, e a sua meia- -irmã, Nathalie Mahy, de 10, que desapareceram de Liège, a 9 de Junho do ano passado. As crianças foram estranguladas e uma delas violada.
O porta-voz da polícia holandesa, Rob Van der Veen, considerou a pista sobre Madeleine como “credível”. A carta, escrita à mão, já foi submetida a perícias e considerada como podendo ser do mesmo autor da pista sobre as duas meninas belgas.
O responsável policial holandês explicou que, embora esta carta seja um pouco menos específica do que a outra, a mesma está a ser levada muito a sério. O local onde poderá estar o corpo de Madeleine é assinalado num mapa com uma cruz.
PAIS ESTÃO INDIGNADOS COM NOTÍCIA DO JORNAL HOLANDÊS
O pai de Madeleine McCann lamentou ontem a forma “irresponsável” e “insensível” como o jornal holandês (‘De Telegraaf’) publicou a notícia sobre a carta anónima que alegadamente indica o local onde o corpo da filha poderá estar enterrado.
“Ficámos muito tristes com a publicação da carta anónima”, refere Gerry no diário que mantém no site
www.findmadeleine.com. O texto foi colocado no site, acrescentando que a notícia foi divulgada “sem que a sua credibilidade tivesse sido verificada e, mais importante do que isso, sem que a polícia portuguesa tivesse sido previamente informada e tivesse a oportunidade de investigar a área convenientemente, sem a atenção massiva da Comunicação Social”.
Segundo os MacCann, “todas as informações devem ser levadas a sério”, mas ainda que a pista fosse verdadeira “a notícia é insensível e cruel”.
“Poderão imaginar como foi triste para a Kate e para mim conhecermos esta informação pelos media”, rematou Gerry. A mãe da menina, em particular, ficou transtornada.
A família de Madeleine mantém, aliás, a esperança de que a menina esteja viva. “É uma carta anónima e relativamente vaga, pelo que não vamos reagir em excesso”, disse ontem a tia da menina, Philomena McCann, citada pelo jornal ‘Independent’. De acordo com Philomena, “a família vai continuar à espera de informações da polícia e tenciona continuar as suas próprias buscas”.
Ainda assim, a familiar considera a informação “perturbadora” e admite que a família possa viajar de Glasgow, onde reside, para o Algarve, a fim de se juntar a Gerry e Kate na Praia da Luz.
Clarence Mitchell, o porta-voz dos pais de Madeleine nomeado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico, referiu não haver “qualquer indicação de que esta carta seja mais credível do que qualquer outra pista”. De acordo com o jornal britânico ‘Times’, a família vai retirar do memorial da menina, em Rothley, os brinquedos e fitas ali deixados pelas pessoas desde o desaparecimento de Maddie.
JUDICIÁRIA ALERTA PARA CONTAMINAÇÃO DE VESTÍGIOS
Apesar das buscas programadas para hoje, a Judiciária continua, em termos oficiais, a considerar a pista holandesa apenas como mais uma. Olegário de Sousa, porta-voz da PJ, disse ontem ao CM que “esta e outras informações estão a ser avaliadas até à exaustão”. O responsável da PJ criticou o facto de “pessoas sem formação específica em investigação criminal estarem a percorrer o eventual cenário de um crime”, pois estarão “a contaminar eventuais indícios e mesmo a destruir vestígios”. Ainda ontem de manhã, jornalistas ingleses recorreram a cães de busca de um particular para tentar localizar o corpo. Na tentativa de ajudar na investigação, ontem à tarde, um alemão contactou a PJ a dar informações sobre um homem belga, de cerca de 50 anos, que se ausentou do país “inesperadamente”, depois do desaparecimento de Madeleine. Ao que o CM apurou, o indivíduo reside na zona de Odemira e poucos dias depois do rapto vendeu o carro que normalmente usava – um automóvel velho, branco sujo. Tinha conversas sobre “estrangulamentos” e quando via a GNR “fugia e ficava nervoso”.
PORMENORES
PISTA
Esta não é a primeira vez que chega à Judiciária uma pista localizada detalhada sobre o paradeiro do corpo de Madeleine. A PJ já investigou, por exemplo, um poço, na zona de Lagos, mas sem quaisquer resultados.
DE TELEGRAAF
O jornal holandês ‘De Telegraaf’, que lançou esta nova pista, tem no Algarve dois jornalistas, que estão em contacto com a PJ. Um deles garantiu ontem ao CM que se encontravam na zona de Odiáxere, mas recusou adiantar pormenores.
PROCURA
O presidente da Junta de Odiáxere, Luís Bandarra, com a ajuda de outras pessoas, tem procurado identificar locais onde possa ter sido enterrada a menina, mas sem sucesso até ao momento.
ANIMAIS
Em locais onde a terra se encontra mexida, no meio do mato, têm sido encontrados por populares alguns animais mortos, designadamente ossadas de cães e ovelhas. Estes terão sido enterrados pelos seus donos.
LOCALIZAÇÃO
A zona onde existe a suspeita de que esteja o cadáver da criança inglesa fica na fronteira entre os concelhos de Lagos e de Portimão.
NOTAS
PISTA ENGANADORA O jornalista espanhol António Toscano, que investiga o caso, garante que a carta anónima “é uma pista falsa para desviar as atenções do autor do rapto”.
UM MILHÕES POR MADDIE O fundo criado pela família McCann para manter o caso vivo nos media já ultrapassou o milhão de euros. No dia 11, tinham sido doados 1 068,183 euros.